Uma breve biografia do compositor de "Aquarela do Brasil"

Ary Barroso
 
 
Divulgação

Conhecidíssimo por seus sambas-exaltação, sendo o mais famoso deles "Aquarela do Brasil" (já chamado de "segundo hino nacional"), Ary Barroso foi múltiplo. Atuando como compositor, instrumentista, apresentador de programa de auditório, locutor esportivo, defensor dos direitos autorais ou político, esse mineiro de Ubá se desdobrou em várias atividades e em todas deixou a marca do espírito combativo e do temperamento forte, muitas vezes intransigente.

Várias áreas de atuação

As variadas áreas de atuação de Ary Barroso não impediram que ele se tornasse um dos mais férteis criadores da música popular de seu tempo, influenciando profundamente tanto seus contemporâneos quanto as gerações futuras.

Ary Barroso foi ao Rio de Janeiro estudar direito; porém, em 1922, abandonou a faculdade e deu início à carreira musical, trabalhando como pianista no cinema Íris. Visitou a Bahia, nos anos 1930, que inspirou muitas de suas mais belas músicas.

Em pouco tempo, ele se firmava no cenário artístico do Rio de Janeiro, então capital federal, e passava a receber inúmeros convites e a atender pedidos de músicas de carnaval, de teatro e de cinema.

Mas ele, que compunha incansavelmente, não deixou de criar obras-primas movido exclusivamente pela inspiração, para seu próprio prazer.

Exaltação do Brasil

Alguns dos sambas de Ary Barroso exaltavam as qualidades do Brasil e os valores (segundo ele) autenticamente nacionais, como "No tabuleiro da baiana" (1937), "Na baixa do sapateiro" (1938) e "Isto aqui o que é?" (1942), além de "Aquarela do Brasil" (1939), e eram geralmente arranjados de maneira grandiloqüente, com letras extensas e acompanhamento orquestral.

Ary Barroso foi, porém, também um dos mais delicados e pungentes compositores de canções passionais. Exemplos disso são as sensíveis "Na batucada da vida" (1934, com Luís Peixoto), "Morena boca de ouro" (1941) e "Pra machucar meu coração" (1943).

Ary Barroso e o Estado Novo

Ambicioso, Ary Barroso buscava deixar um legado para as futuras gerações, indo além do sucesso imediato das canções e tentando atingir algo mais permanente e emblemático da brasilidade.

O país vivia, no início dos anos 1940, o
Estado Novo e, ao mesmo tempo, a Segunda Guerra Mundial fazia os americanos, por razões estratégicas, se aproximarem do Brasil, inclusive no plano cultural e musical.

O viés "exótico" do cinema hollywoodiano e o
populismo do governo de Getúlio Vargas foram o cenário ideal para essa música que exaltava as belezas e riquezas do Brasil, fugindo dos temas da malandragem, bebida, pobreza e amores fracassados.

Assim, fazendo um tipo de música ufanista, que combinava com o espírito do nacional-socialismo de
Hitler, o qual inspirava o Estado Novo de Getúlio, Ary Barroso teve a oportunidade de se tornar conhecido no mundo inteiro, através das músicas que compôs para os filmes de Walt Disney.

Precursor da bossa nova

Sua preocupação em divulgar o "samba autêntico", nos anos 1950, levou Ary Barroso a detestar os "acordes americanos" no samba. Ele brigava, por exemplo, para que sua composição "Risque" (1952), um samba lento, não ganhasse batida de bolero.

Crítico da bossa nova, que para ele não era autenticamente nacional, o autor de "É luxo só" (1957, com Luís Peixoto) foi na verdade um precursor do movimento, tendo sido grande influência para os maiores nomes do gênero, Tom Jobim e João Gilberto.
João Gilberto gravou Ary Barroso logo em seu disco de estréia, em 1959. "O próprio Tom Jobim", lembra o crítico Tárik de Souza, "regravaria incontáveis vezes "Aquarela do Brasil", em versões intimistas que exploravam recônditos achados harmônicos e melódicos do original".

Ary Barroso morreu em 9 de fevereiro de 1964, em pleno Carnaval, momentos antes da escola de samba Império Serrano entrar na avenida com um samba-enredo em sua homenagem.

Por que ler é fundamental?

"A leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo."Paulo Freire

Afinal por que se afirma que é tão importante ler? Para responder a essa questão, vamos lembrar que o texto - seja de que natureza for - está sempre pronto a ser compreendido, decifrado e interpretado. O processo da leitura exige um esforço que garante uma compreensão ampliada do mundo, de nós mesmos e da nossa relação com o mundo.

Na
Roma antiga, o verbo "ler" - do latim legere - além de ler, também podia significar "colher", "recolher", "espiar", "reconhecer traços", "tomar", "roubar". Para os romanos, então, ler era muito mais do que simplesmente reconhecer as palavras e frases dos outdoors de uma avenida, dos índices de desempregos noticiados nos jornais, do discurso político de um candidato à presidência da República, de um poema ou de um conto, de um romance ou de um filme.

Ler é compreender os discursos, mas também é completá-los, descobrindo o que neles não está claramente dito. Talvez "recolher" seja buscar as pistas que o texto tem, "espiar" seja distanciar-se um pouco e não de imediato aquilo que está sendo proposto, "tomar" e "roubar" talvez queira dizer estar prontos a captar, capturar, se apropriar daquilo que está escondido nas entrelinhas de um texto.

Um desfile de palavras vazias?

É assim que a leitura se torna criativa e produtiva, pela descoberta dos sentidos do texto e a atribuição de outros. Do contrário, ela se torna apenas assistir a um desfile de letras, palavras e frases vazias, diante de olhos tão passivos, quanto sonolentos.

O mundo simbólico se amplia diariamente. A maior parte dos fenômenos, sejam de natureza política, econômica, social ou cultural, fazem parte de um registro contínuo do homem. Também a reinvenção da realidade por meio dos textos literários, que constroem uma nova linguagem, nos dá a dimensão das emoções, sentimentos, críticas e vivências do homem, na sua busca de sentido para a existência.

Nos contos, crônicas, romances, poemas, nos mais variados textos criados, há sempre um universo interior e exterior de pessoas que vivem ou viveram num determinado tempo e espaço. Ler os textos escritos e as diversas linguagens inerentes ao ser humano é ampliar o nosso próprio mundo simbólico, é desenvolver nossa capacidade de comunicar e criticar, enfim, é um ato contínuo de recriação e invenção.