Ao contrário de muita gente, sempre tive o sonho de morar sozinho.
Viver longe da família sugere liberdade. Habitar uma república de estudantes tem seu valor. Mudar de cidade é um grande aprendizado. Porém, eu desejava mais do que isso. Queria entrar em casa e encontrar o prazeroso silêncio e a valiosa solidão. Andar pelado e ligar o som. Abrir as janelas, a cerveja, uma revista e o chuveiro – tudo ao mesmo tempo, sem incomodar ou ser importunado.
Dias atrás, acabei descolando um cafofo, deserto, ninguém ao meu redor. Pensei: “Maneiro. Para começo de conversa vou comprar uma vassoura. E um sabão”.
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Cheio de ânimo, rumei ao supermercado e me aventurei pela misteriosa seção de materiais de limpeza. Que lugar fascinante! Antes de alcançar o simplório sabão, fui apresentado aos seus primos: água sanitária, alvejante e desinfetante. Achei-os, a princípio, muita areia para o meu carrinho. Não fui com a cara de um tal de solvente.
Mais adiante, cruzei com os clorados e limpa-fornos. Não compreendi os evita-mofos. Achei um barato os chamados saponáceos.
Intrigou-me a existência dos pré-lavagem. Descobri que não basta ser um pano – tem que ser um pano multiuso. Sem desfazer, por sinal, dos panos umedecidos e dos panos de algodão. Minha agonia quanto aos desentupidores só foi amenizada quando avistei as esponjas sintéticas e os polidores de metal.
A partir daí, tomou-me uma paz sem explicação, graças à qual assimilei os amaciantes e até os facilitadores de passar. Desnecessário dizer que tirei de letra os eficientes lustradores e as simpáticas pastilhas para ralo. Imaginei que os limpadores perfumados, quando crescessem, gostariam de ser odorizadores de ambiente. Mas logo me dispersei...
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Por fim, decidi levar uma cera líquida, um álcool em gel e um negócio de eucalipto. Quanto ao título do texto?... É que achei interessante um pacotinho escrito “Coifas e Depuradores”. Também ocupava a prateleira, perto das lãs de aço.
Eu sei, hoje em dia é só jogar no Google que a gente descobre qualquer coisa. Mas todo esse episódio me fez perceber que estou perdendo minha inocência. Por isso, decidi:
Nem sob tortura eu pesquiso sobre o que vêm a ser “Coifas e Depuradores”!
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